O Grupo de Jovens Especialistas

Para além da aplicação da metodologia Power Up / Power Down, também foi constituído um grupo de jovens especialistas com o objectivo de apoiarem, com o seu parecer, todas as acções que estão e venham a ser implementadas no âmbito do projecto.

Estes e estas jovens, rapazes e raparigas, ‘peritos e peritas da sua própria vida’, constituíram aquilo a que o Projeto designou Grupo de Jovens Especialistas. As suas sugestões estão em estreito alinhamento com os resultados do já citado estudo da FRA (visitar o separador “links”):

  • As crianças expressam o seu desejo de serem ouvidas nos processos judiciais; no entanto, sentem a necessidade de ambientes mais seguros e confortáveis;
  • Profissionais com um determinado perfil, capazes de compreender a criança na situação em que se encontra, de estabelecer uma relação empática, de ouvir a criança e dar-lhe oportunidade para expressar os seus pontos de vista, são muito valorizados pelas crianças (ver abaixo ‘Pessoa Super Ouvinte’);
  • As crianças nem sempre se sentem suficientemente protegidas e referem com frequência o desconhecimento sobre o que lhes vai acontecer e/ou incompreensão sobre o que aconteceu.

Este grupo é constituído por jovens com idade compreendida entre os 18 e os 27 anos que tiveram alguma forma de contacto com o Tribunal por ter vivido num contexto familiar de violência doméstica.

Contando com a colaboração desses jovens que já frequentaram os nossos serviços (Centro de Atendimento Mulher e Casas de Abrigo), pretendemos contribuir com propostas para melhorar o sistema de justiça na sua relação com crianças e jovens em contextos de violência doméstica, nomeadamente as opiniões deles sobre o plano nacional que esta a ser debatido para implementação pelo fórum multisectorial e como assegurar uma melhor escuta da criança no sistema judicial e nas decisões legais que lhes afectam diretamente.

“O trabalho que estamos a desenvolver com o grupo de especialistas tem sido muitíssimo rico. Contudo, queremos destacar três momentos de debate especialmente importantes (dois deles já em sessões virtuais devido à pandemia causada pelo COVID-19):

 

O System Mapping  – no qual solicitamos ao grupo de jovens especialistas (GJE) para ligarem os símbolos das organizações às suas funções/ missões e posteriormente identificarem, no seu ponto de vista, quais as relações interinstitucionais que funcionavam bem e mal.

Mediante este exercício foi possível identificar constrangimentos e recomendações:

Uma jovem apontou que as autarquias não consideram como prioridade a habitação social a mulheres sozinhas (sem filhos), ficando estas mulheres excluídas deste tipo de apoio;

Foi identificado pelo GJE a pouca formação de muitas e muitos advogados que são designadas/os para acompanharem vítimas em processos de Violência Doméstica;

Já no sector da educação, as escolas foram apontadas como estando muito distantes das famílias, tendo sido feita a ressalva da diferença entre centros urbanos e zonas rurais.

O Storyboard: foi apresentada a banda desenhada proposta pelo projecto e os resultados do grupo que participou na metodologia Power-Up- Power Down. Este foi o mote para o debate e para mais propostas de mudança:

  • Importância de formação para todas/os profissionais que tenham contacto directo com as crianças nos processos judiciais (juízes inclusive);
  • A escola pode ter uma especialista que nota as diferenças no comportamento da criança/jovem;
  • Professores podem ter mais formação na área do desenvolvimento das crianças, melhorando assim a sua capacidade de escuta;
  • A Psicóloga Graça faz uma carta à juiza conjuntamente com as crianças antes da audiência em tribunal;
  • Como é que se notifica a criança antes da audiência? A CPCJ pode fazê-lo?;
  • O técnico do tribunal pergunta as suas questões directamente às crianças e não aos pais;
  • Quando termina o relatório, o técnico tem que dizer à criança o que lá está escrito e reformular se a criança/ jovem assim o pedir;
  • O relatório deve ser entregue só ao juiz e não aos pais – confidencialidade do testemunho da criança/ jovem (se já existe confidencialidade na decisão em matérias de tributária e aduaneira por que não aqui?);
  • importância de fazer a audição da criança num sítio que lhe seja confortável, dentro ou fora do tribunal;
  • gravação da audição para memória futura para que a criança não tenha que repetir depoimentos;
  • uso de microfone e video links com juiz , dinamizado por uma/um técnica/o de saúde mental com formação na área do desenvolvimento – “juiz pode ver a reaccão livre”, “torna-se mais espontâneo”;
  • estar na sala de audiência com o progenitor agressor é muito intimidante para uma criança.

 

A Super-Ouvinte

Antes de mais quisemos perceber o que é ouvir? O que é escutar? E qual é a diferença entre ouvir e inquirir? Para tal começámos por tentar perceber – Que super ouvintes têm os jovens nas suas vidas e quais as características dessas pessoas? Os jovens deram alguns exemplos e chegaram depois à conclusão de que em relação à personagem da Graça – a Super-Ouvinte desta história, aquilo que a tornava especial eram as seguintes características: Disponibilidade emocional, amável, confiável, aberta e acolhedora, paciente, alguém que acolhe todas as partes da pessoa (partes boas e más). Também tivemos uma proposta muito interessante de um dos peritos do nosso grupo – a Super Ouvinte poderia atender num Centro de Saúde ou numa escola, por exemplo? Deste modo uma criança pequena podia falar com ela sem ter que depender dos pais para o fazer.